Em recente visita a uma empresa nos EUA, revi uma prática que parece ter sido esquecida por muitos, o “defeitódromo”. Mas o que é um defeitódromo?
Trata-se de uma maneira de expor publicamente produtos com problemas graves, principalmente de qualidade, cujas causas foram encontradas e resolvidas. Nessa empresa do setor militar, há vários componentes bastante complexos tecnologicamente, exigindo muita precisão e controles rígidos.
A empresa colocou uma estante onde produtos, itens ou componentes produzidos internamente tiveram problemas sérios. Para cada um deles, havia um pequeno cartaz explicativo de forma didática como o problema foi encontrado, sua consequência para os clientes e como foi resolvido, incluindo fotos dos colaboradores que se envolveram na solução. Alguns eram complexos e demandaram esforços significativos de engenharia por um longo tempo, outros foram resolvidos por equipes da própria fabrica, trabalhando em equipe.
Essa prática era amplamente usada em empresas brasileiras há muitos anos e gradualmente foi sendo abandonada por razões que não consigo vislumbrar claramente.
Algumas das hipóteses para essa prática ter sido abandonada pode ser o receio de expor a empresa quando há muitos visitantes, que podem ser clientes, e eventualmente poderiam ficar preocupados ou ter uma má impressão. Ou poderia deixar os colaboradores desmotivados com a exposição tão visível desses problemas que poderiam ser vistos ou entendidos como sendo causados por eles. Outro motivo, pode ser a falta da atenção da direção da empresa para manter atualizada essa prática. Nada pior de que uma estante empoeirada não atualizada e em desuso!
Pena que isso tenha acontecido. Trata-se de uma prática muito interessante. Primeiro, por expor os problemas publicamente como se quisesse ser dito a todos que “sim, temos muitos problemas e às vezes são muito sérios”. Segundo, o importante é mostrar que o problema foi resolvido usando métodos científicos e que envolveu várias pessoas que trabalharam em conjunto. Isso estimularia todos a usar métodos semelhantes para enfrentar novos problemas que fatalmente surgirão. E ainda, isso mostraria o progresso da empresa no desenvolvimento de suas capacitações.
Desse modo, os receios das empresas com essa prática são amplamente superados pelos seus benefícios. Se um cliente visitar a empresa e encontrar esses problemas expostos, o que pensarão? Que essa empresa não é boa? Ou não seria que essa empresa é capaz de expor e resolver os seus problemas. Será que o cliente tem operações muito melhores que não têm problemas?
E ainda, será que a exposição dos problemas desmotivaria os colaboradores ou, ao contrário, poderia servir como motivo de orgulho pela capacidade de resolver?
Esconder os problemas é um elemento negativo da cultura das empresas. Não ajuda a melhorar o seu desempenho e engajar os seus colaboradores positivamente.
Junto com o defeitódromo, as empresas podem também apresentar os seus mais recentes kaizen, ou seja, as principais melhorias realizadas, em todas as áreas da empresa.
Crie ou recrie o seu defeitódromo. Ou alguma forma de expor problemas que foram resolvidos. E junto estimule a gestão visual onde os problemas reais de hoje também são expostos, mesmo que ainda não tenham sido resolvidos.
Vincule isso a quais valores e crenças você quer criar na sua empresa. Desse modo, estará sendo criada uma empresa que não tem vergonha de esconder seus problemas, mas que também tem capacidade de resolvê-los.
Fonte: Epoca Negócios
Link: http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Empresa/noticia/2013/11/crie-ou-recrie-o-seu-defeitodromo.html
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