BEATRIZ IOLANDA

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Banco Central volta eleva juros; entenda efeitos na inflação e no bolso

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*Com informações da BBC NEWS

A taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, foi novamente elevada nesta quarta-feira (8/12) pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) e passou de 7,75% para 9,25%.

A Selic, que serve de referência para outras taxas na economia brasileira, está em alta desde maio, em resposta a uma crescente inflação e à percepção de descontrole sobre os gastos do governo federal, principalmente em um período pré-eleições de 2022.

Puxado pela alta nos transportes e nos custos de alimentos e bebidas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, subiu 1,25% em outubro, o maior índice para esse mês desde 2002. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação já está em 10,67%.

A taxa Selic em curva ascendente colocou fim a um ciclo de quase seis anos de juros em patamares bastante baixos para o histórico brasileiro – que chegou a seu ponto mais baixo em 2%, entre agosto de 2020 e maio de 2021.

Ao anunciar a alta na Selic, o Copom informou que o ambiente econômico externo está “menos favorável” diante da persistência da inflação e de uma possível nova onda de covid-19 causada pela variante ômicron.

“Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores divulgados desde a última reunião mostram novamente uma evolução moderadamente abaixo da esperada. A inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços foi acima da esperada, tanto nos componentes mais voláteis como também nos itens associados à inflação subjacente. As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, diz a nota divulgada.

Com a incerteza fiscal e a expectativa de que a inflação fique acima da meta pelo segundo ano consecutivo, com impacto direto no orçamento das famílias, já era esperado por economistas que a Selic subisse – e continue em tendência de alta.

Em entrevista à BBC News Brasil em outubro, antes da reunião anterior do Copom, economista Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências, estimava que a Selic possa chegar a 10% no início do ano que vem. “As taxas de juros conseguem conter um pouco essa piora (do cenário inflacionário) ao segurar a atividade econômica e os preços”, explicou.

Isso porque, ao elevar os custos do crédito, elas fazem as empresas e consumidores gastarem menos e os estimula a poupar mais – uma vez que o dinheiro poupado é remunerado a uma taxa de juros maior.

“A taxa de juros é a ferramenta mais rápida e simples (diante de um cenário inflacionário)”, apontou o economista Reginaldo Nogueira, diretor-geral do Ibmec São Paulo e Brasília, também em conversa com a BBC News Brasil em outubro.

Um efeito colateral disso, porém, é dificultar a retomada dos investimentos produtivos e dos empregos, em um momento em que o Brasil ainda tenta voltar aos patamares de antes da pandemia e da crise econômica.

Paulo Guedes e Bolsonaro

CRÉDITO,REUTERS
Legenda da foto: Expectativa de furo do teto de gastos piorou as perspectivas econômicas em outubro

Por isso, aumentos na taxa de juros costumam enfrentar muitas críticas das associações industriais do país, que reclamam que a medida deixa o crédito mais caro para consumidores e empresas e prejudica sua produtividade.

Para Silvio Campos Neto, porém, mesmo antes dos recentes aumentos da Selic o mercado e as instituições privadas já vinham aumentando seus juros, antecipando a decisão do BC.

Outro efeito preocupante da alta da Selic é o de tornar mais cara a dívida pública do Brasil, em dólares – um problema que deve voltar com mais força ao debate nacional em 2023, no pós-eleições, junto a discussões sobre reformas econômicas e aumento de tributos, previa Reginaldo Nogueira.

O imbróglio fiscal do governo

Mas, junto à inflação, outro fator crucial apontado para a recente alta acelerada dos juros é a preocupação com os gastos do governo. Essa preocupação ganhou ímpeto em outubro, quando o presidente Jair Bolsonaro pretendia anunciar o programa substituto do Bolsa Família – o chamado Auxílio Brasil, com benefício no valor de R$ 400.

No entanto, ante a perspectiva de que parte desse benefício viesse de recursos de fora do teto de gastos – ou seja, além do total que o governo federal pode gastar sem desrespeitar a lei -, os agentes do mercado financeiro reagiram na época com uma alta no dólar e uma queda na bolsa de valores.

O dólar mais alto, por sua vez, pressiona ainda mais a inflação, uma vez que muitos dos bens adquiridos por indústrias e consumidores são importados.

O resultado foi, então, um adiamento no lançamento do Auxílio Brasil – até que o benefício começasse a ser pago, em novembro, para 14,5 milhões de famílias.

A expectativa é de que mudanças no pagamento de precatórios por parte do governo disponibilizem recursos para o programa social – a Proposta de Emenda Constitucional está em processo de promulgação no Congresso.

O que alguns economistas argumentam é que, na ausência de controle sobre os gastos do governo, a tendência é que a inflação continue aumentando – algo que, por sua vez, que corrói o poder de compra justamente dos mais pobres. Isso traz uma pressão para o Banco Central e o mercado financeiro elevarem as taxas de juros, o que, por sua vez, retrai os investimentos.

“Quando se começa a falar em romper o teto de gastos, mesmo que em um patamar não tão elevado, isso passa sinais de que não haverá contenção das pressões de demanda pelo (aumento do) gasto público”, explicou o economista Reginaldo Nogueira.

“Isso aumenta o risco político e afeta o câmbio, com mais efeito sobre a inflação.”