BEATRIZ IOLANDA

EMPREENDEDORISMO É O NOSSO FOCO!

Estão te roubando agora!

Por: Sidney Santos

Tenho certeza de que alguém está te roubando no exato momento em que você lê esta coluna. Não é só você – estão fazendo isso na minha empresa também. Não sei quanto estão tirando agora. Não sei quem. Mas sei que estão. Há talvez algum funcionário fraudando notas de vendas. Outro pode estar embolsando cheques de clientes. Ou há gente numa de nossas 19 unidades pegando “emprestado” dinheiro do caixa. E querem saber? Eu não sofro. Aprendi a conviver com esse tipo de malandragem.

Sempre que digo isso a outro empreendedor, ele me olha com espanto. Parece que está perguntando: será que esse cara ficou tão rico a ponto de não se importar de ser enganado ou é bobo mesmo? Pois, creio eu, sou apenas realista. Todo pequeno ou médio empresário está sujeito à pilantragem de algum de seus funcionários. E, à medida que a empresa cresce e fica difícil controlar tudo, é bem provável que os furtos aumentem. É ingenuidade acreditar no contrário.

A primeira vez que descobri que fui roubado faz uns 15 anos. O escritório principal do Grupo Sid tinha sido assaltado por ladrões profissionais, que levaram cheques pré-datados de clientes. Pouco tempo depois, identifiquei que a funcionária que mais me deu apoio moral na ocasião havia aproveitado a confusão do roubo e enfiado na bolsa boa parte dos cheques que os ladrões de verdade tinham deixado para trás.

Foi um choque. Demiti a mulher. Mas, de lá para cá, apareceram muitos outros casos. Não é que eu não faça nada. Invisto em sistemas de segurança e monitoro tudo. Mas funcionários mal-intencionados são criativos. Por mais sofisticados que sejam os controles, não dá para ter 100% de certeza de nada.

Fundei minha primeira empresa aos 17 anos. Hoje, estou com 38 e comando 270 profissionais. Nesse tempo todo aprendi que o método mais eficiente para controlar a roubalheira na empresa é o olho do dono mesmo. O funcionário desonesto tem de achar que, a qualquer momento, pode ser pego em flagrante – e por você. Inventei métodos próprios de vigilância. Um deles é o fax do dinheiro. Funciona assim: de vez em quando, telefono para uma das filiais e peço ao gerente de lá para enviar um fax – nota por nota, frente e verso – do dinheiro que consta no caixa. Como as cédulas são numeradas, não há como usar uma mesma nota para fazer de conta que o caixa tem mais do que realmente tem. Com esse sistema, já flagrei dois funcionários com a mão na massa. Eles enviaram uma mesma nota de 50 reais várias vezes. Claro que não fico pedindo fax de dinheiro a toda hora. O importante é que eles saibam que posso fazer isso de repente.

O último desfalque (até agora) foi feito por uma funcionária que, pouco antes de ser desmascarada, foi premiada com uma TV de 50 polegadas pelo bom desempenho. Contei o episódio a minha filha Isabella, de 9 anos (acho importante ela saber dessas situações complicadas da vida). Primeiro, ela perguntou: “Papai, tem certeza disso?” Respondi que sim. “E ela tem filhos, papai?” Ela tem. “Acho que eles vão sofrer, porque é triste ter uma mãe que rouba.” E concluiu: “Podemos, pelo menos, pegar a TV de volta?”

Outro dia, minha irmã Alexandra soube que eu estava abrindo mais duas filiais e falou: “Por que, se você sabe que vão te roubar?” Porque ter de lidar com a má conduta de determinadas pessoas faz parte da jornada de todo empresário. É por medo de ser enganado que vou desistir de crescer? De jeito nenhum. Pode ser que me levem dinheiro e mercadorias, mas nunca minha motivação para empreender. Fora isso, os funcionários desonestos são minoria. A maioria é gente séria e disposta a trabalhar. São elas que levam a empresa para a frente e nos fazem acreditar no ser humano.

Fonte: Exame
Link: http://exame.abril.com.br/revista-exame-pme/edicoes/22/noticias/estao-te-roubando-agora-528742