André Esteves, o impetuoso banqueiro que certa vez brincou que o nome de sua empresa, Grupo BTG Pactual, significava “better than Goldman” (“melhor que o Goldman [Sachs]”, em tradução livre), é o mais recente executivo famoso arrastado pelo abrangente escândalo de corrupção do Brasil.
O bilionário de 47 anos foi preso em 25 de novembro no Rio de Janeiro juntamente com o senador Delcídio Amaral, disse a polícia.
Esteves teria tentado um acordo com Amaral para interferir no depoimento de um ex-executivo da Petrobras que está preso, segundo um documento judicial.
Esteves causou sensação no cenário financeiro internacional — e se tornou o mais jovem bilionário do Brasil a construir sua própria fortuna — quando vendeu o Pactual ao UBS por US$ 2,6 bilhões em 2006. Ele e seus sócios compraram a empresa de volta três anos depois e iniciaram uma expansão, abocanhando negócios como a unidade suíça de banco privado da Assicurazioni Generali SpA. A empresa vendeu ações ao público em 2012.
“Ele simboliza a ideia de uma geração seleta, bem-sucedida e empreendedora de banqueiros brasileiros — é isso que ele representa”, disse Felipe Monteiro, professor de estratégia da Insead, na França. Seu suposto envolvimento “com a vertente mais clássica da velha política é um tanto estranho”.
A cara da empresa
Esteves se une ao grupo de mais de 100 presos, que inclui importantes ex-executivos da estatal Petrobras e do maior conglomerado do setor de construção do Brasil. A abrangente investigação sobre suposta corrupção na Petrobras, que começou em março de 2014, ajudou o real a registrar o pior desempenho entre as principais moedas do mundo neste ano, contribuiu para a retração econômica do país e sacudiu o governo da presidente Dilma Rousseff.
“O risco para a empresa é que André Esteves é a empresa”, disse Mark Williams, autor de “Uncontrolled Risk” (“Risco Descontrolado”, em tradução livre), um livro sobre a ascensão e o colapso do Lehman Brothers. “Não existe um carismático executivo número 2 formado e pronto para liderar”.
O BTG Pactual disse, em um comunicado enviado por e-mail, que está cooperando com a investigação.
O advogado de Esteves, Antonio Carlos de Almeida Castro, disse em entrevista por telefone que Esteves não é culpado e não esteve envolvido nas ações pelas quais está sendo acusado.
Golpe no conselho
André Esteves nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de classe média da Tijuca. Filho único cujos principais interesses eram a leitura, os estudos e jogar futebol, ele disse em uma entrevista concedida em 2007 que era fascinado por computadores na adolescência. E por isso resolveu estudar Ciência da Computação na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ele iniciou sua carreira consertando computadores no Pactual em 1989. Depois de dois anos, foi incumbido pelo fundador do banco, Luiz Cézar Fernandes, de tarefas de contabilidade e administrativas no trabalho de apoio à mesa de negociação.
Fernandes, em entrevista concedida em 2007, disse que gostou de Esteves desde o início porque ambos vinham de famílias de classe média e não tinham estudos na área financeira, nem laços com a tradicional e familiar comunidade bancária do Brasil.
Posteriormente, Esteves se uniu a três sócios para arquitetar uma manobra no conselho que derrubou seu mentor. “Eu fiquei surpreso quando eles se voltaram contra mim”, disse Fernandes. “Mas ninguém podia discutir com um cara que estava ganhando tanto dinheiro para o banco”.
Gerador de riqueza
Ganhar dinheiro era algo em que Esteves se destacava e de que gostava. Ele gerenciou a equipe de renda fixa do Pactual de 1993 a 1996 e tornou-se sócio-gerente em 2002. Menos de um ano depois de comprar a empresa, o UBS colocou Esteves no comando do setor de venda e trading global de renda fixa. Ele se mudou para Londres e supervisionou mais de 1.000 pessoas.
“Eu gosto de ganhar dinheiro”, disse Esteves, após ser nomeado para o cargo. “Eu sou bom em ganhar dinheiro. É excitante gerar riqueza”.
Em pouco tempo, a crise financeira varreu o globo e atingiu o UBS, que teve mais de US$ 50 bilhões em prejuízos e baixas contábeis, provocando um resgate do governo. Após sair do banco para formar o BTG, Esteves se juntou a alguns de seus antigos sócios para comprar o Pactual por US$ 2,5 bilhões.
Ele transformou a empresa no maior banco de investimento independente da América Latina. O banco foi o principal organizador de vendas de ações da região em 2013, proeza que se repetiu neste ano até a última semana do mês passado, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Fonte: Exame
Link: http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/como-o-bilionario-andre-esteves-construiu-seu-imperio
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