BEATRIZ IOLANDA

EMPREENDEDORISMO É O NOSSO FOCO!

Bares trocam transmissão de jogos de futebol por episódios finais de série adolescente e turbinam faturamento

“É uma copa feminina”, diz a internauta Duda Matos (@duda.lfr) em um vídeo publicado no TikTok sobre a série “O Verão Que Mudou Minha Vida”, exibida pelo Prime Video. O conteúdo foi um pedido para que bares cariocas fizessem a transmissão da série inspirada nos livros da autora Jenny Han, que narra o triângulo amoroso entre uma garota e dois irmãos. O post chegou até o proprietário do Meat Leblon, no Rio de Janeiro (RJ), e o desejo das fãs se concretizou no dia 3 de setembro, reunindo 100 pessoas no local. A história se repetiu na semana passada e acontece novamente nesta quarta (17/9), quando é exibido o capítulo final da saga romântica.

“Eu não fazia ideia do que era a série”, revela Guilherme Brito, do Meat Leblon. O primeiro questionamento feito por ele para Maria Manoela Denes, do marketing da empresa, foi se cairia em dia de jogo. Como não havia conflito de horários, a ideia se concretizou com a própria internauta compartilhando nas suas redes sobre a transmissão. “Eu esperava que aparecessem 20, 30 pessoas, no máximo. Foram 100”, conta Brito.
O restaurante apostou em cardápio especial, com margaritas (drinque que aparece com frequência na história), e lanches com plaquinhas temáticas — com nomes remetendo aos personagens. Um dos pratos, por exemplo, é o “Chicken Boy Conrad”, já que Conrad Fischer, um dos irmãos da trama, é visto preparando frango em vários momentos da terceira temporada.

Com o sucesso, os fãs garantiram a transmissão dos últimos dois episódios. Mais familiarizado com o engajamento, Brito sugeriu ao bar ao lado para deixar a série passando na televisão. Foram cerca de 150 pessoas no Meat Leblon e, ainda assim, não coube todo mundo. “Eu já previa que não ia conseguir comportar e expliquei o movimento para o Bar Jobi e sugeri que transmitisse. Cheguei a contar cerca de 300 pessoas somando os bares ao lado.”

Placas temáticas complementaram os lanches no Meat Leblon — Foto: Reprodução/Instagram

Resultado: o empreendimento vizinho também ficou lotado. “Trabalhamos com harmonia com os outros bares, sempre tentamos fazer um trabalho conjunto para movimentar o quarteirão”, diz. Segundo Brito, nesse dia, o faturamento foi três vezes maior que o de uma quarta-feira comum.

Público excedente do Meat Leblon se distribui entre os bares vizinhos — Foto: Divulgação/Meat Leblon
Público excedente do Meat Leblon se distribui entre os bares vizinhos — Foto: Divulgação/Meat Leblon

Após a primeira transmissão no Meat, no dia 3 de setembro, um vídeo do momento foi publicado no TikTok, chegando a mais de 1,2 milhão de visualizações. Nos comentários, é possível ver um movimento de internautas questionando sobre a transmissão em outras cidades.

O Garten Bar, em Campinas (SP), transmitiu o penúltimo episódio (no dia 10) devido a uma história semelhante à do bar carioca. Os empreendedores Caroline Bisco e Gabriel Fahl chegaram a negar o pedido de uma cliente de passar a série por sempre ter tido um público voltado ao futebol. Mas a sugestão apareceu mais duas vezes por meio de uma amiga e pela agência de marketing.

A amiga de Bisco compartilhou um vídeo no TikTok sobre a transmissão, e o Instagram do Garten fez a própria divulgação. “Foi um alcance orgânico do post. Recebemos muitas mensagens pedindo reservas para a data. Chegou um momento que paramos de aceitar para conseguir acolher quem chegasse na hora.”

Batidores e pós-evento foram registrados nas redes sociais do Garten Bar — Foto: Divulgação/Garten Bar
Batidores e pós-evento foram registrados nas redes sociais do Garten Bar — Foto: Divulgação/Garten Bar

A organização para o evento foi feita em três dias, com cardápio temático, adição de um ponto de televisão e até a troca por um telão mais novo. O Garten apostou na Margarita de Romã, além de drinks e combos com nomes que remetem a série. “Eu comecei a assistir, mas não tive tempo de terminar. Pedi ajuda para quem conhecia e juntamos as melhores ideais”, explica.

No total foram 170 pessoas acomodadas, incluindo fãs de cidades vizinhas, em um espaço que normalmente recebe até 150 clientes. “Ficou muita gente na fila de fora, tinha criança, idoso, casal. Mas se colocássemos mais pessoas iria atrapalhar a experiência.” A empreendedora estima que o faturamento dobrou em relação a uma quarta-feira comum.

Para o último episódio, que fica disponível a partir desta quarta-feira (17), mais cidades adotaram a iniciativa. Em Fortaleza (CE), o bar e restaurante É Sim, irá transmitir a série. Segundo o gerente, Heudes Sancord, o estabelecimento disponibilizou um total de 228 ingressos, que se esgotaram em menos de três dias. Foi cobrado um valor de R$ 20 para custear decorações, painel de foto e novidades no cardápio. A quantidade de pessoas que frequentam o espaço de dia semana deve quadruplicar com o evento. Em dias normais, o público chega a no máximo 50 pessoas.

A estratégia também chegou à capital paulista. Um dos lugares que irá acolher os fãs é o bar e karaokê Toca Uma Pra Mim, no Tatuapé. “Nós já realizamos outras watch parties não oficiais na casa. Fizemos a transmissão do último episódio de ‘House of the Dragon’, ‘Agatha All Along’ e ‘Beleza Fatal’”, exemplifica o empreendedor Ricky Rolim.

No caso de “O Verão que Mudou Minha Vida”, o pedido veio de um grupo de 50 meninas. O bar chegou a transmitir o penúltimo episódio apenas para esses fãs, número que já lotou o espaço. Para a final, a casa disponibilizou ingressos para 45 pessoas, que se esgotaram em 10 minutos. “Desde que anunciamos que teríamos a transmissão, já recebemos cerca de 150 mensagens perguntando por novos ingressos”, revela Lucas Caetani, também empreendedor do local.

Na mira por novo público

O movimento tem surpreendido positivamente os empreendedores, que até então tinham tido poucas experiências na transmissão de séries. O foco costumava estar na transmissão de esporte, shows, Oscar, resultado de eleição e, em alguns casos, final de novela. “Em dez anos de história, nós nunca passamos por nada parecido, nem final do Flamengo ou da Copa do Mundo”, revela o dono do Meat Leblon.

O Toca Uma Pra Mim, mais acostumado a fazer eventos temáticos, normalmente não tem expediente de quarta-feira, então são dois dias de transmissão que acrescentarão ao faturamento mensal. “As transmissões e encontros de fãs sempre nos surpreendem positivamente, ganhamos novos clientes que ainda não conheciam a casa e temos certeza que dessa vez não será diferente”, detalha Caetani.

Para os demais empreendedores contatados pela reportagem, o público alcançado com a transmissão é diferente do que estão acostumados. “Cerca de 90% dessas pessoas não eram clientes do Garten. É um público compreensivo, que apoiou a iniciativa e viraram fãs do bar. Esperamos continuar recebendo essas pessoas no episódio final e futuramente”, diz Bisco.

“Para não deixar tantas pessoas frustradas, na última sessão, vamos adicionar uma televisão virada para rua para que todos possam acompanhar, mesmo que não consigam entrar no bar”, complementa a empreendedora. O local já planeja noites temáticas futuras, por exemplo, pela transmissão de filmes antigos.

O mesmo aconteceu no Meat Leblon, por lá, segundo Brito, as meninas já programam reprise para assistir a série e abre os olhos do empreendedor para estratégias futuras. “Foi a transmissão que mais deu impacto para nós. Mudou a minha vida também”, brinca Brito.

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